A desospitalização é a transição do paciente do ambiente hospitalar para outro de menor complexidade, seja ele, o domicílio, ou outra instituição que se responsabilize pelos cuidados do paciente no pós-alta. O Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), é pioneiro na gestão de altas hospitalares, desenvolvendo uma área que prepara a família e o paciente para sua saída segura da UTI Pediátrica (UTIP).
“Esse processo de desospitalização precisa ser iniciado desde a admissão, visando identificar demandas de cuidados que possam perdurar até o momento da alta”, explica a enfermeira de ligação da Gestão de Altas (GA), Tatiana Braga. Ela afirma que é necessário que a equipe multiprofissional enxergue acima do motivo do internamento, e considere o paciente e sua família como um todo.
Desospitalizar exige o planejamento de alta, que é uma estratégia que visa a continuidade de cuidado no pós-alta, considerando a transição do cuidado. Segundo a enfermeira, para isso, é necessário o trabalho em equipe, identificação precoce das demandas de cuidados, comunicação assertiva entre os membros dessa equipe, valorização do momento de transição do paciente e família, orientação à beira de leito, articulação entre setores do hospital e os pontos de atenção da Rede de Atenção à Saúde (RAS)”, completa Tatiana.
Os benefícios desse processo são a redução de tempo de internamento e de taxas de reinternação; melhoria na qualidade do atendimento; fortalecimento da integração entre os pontos de atenção da RAS; economia de recursos humanos, de materiais, de custos hospitalares; aumento da rotatividade dos leitos hospitalares, além da promoção da autonomia do paciente e família em relação aos cuidados de saúde.
Etapas para a desospitalização
De acordo com Tatiana Braga, os passos dados para a desospitalização iniciam com a demanda de continuidade de cuidado é identificada, em seguida a família é orientada verbalmente sobre esse processo e, após isso, a equipe começa a orientação de cuidados ao paciente e família ou de encaminhamentos junto à Rede de Atenção à Saúde. Ao mesmo tempo, inicia-se um processo de negociação com essa Rede sobre recursos disponíveis, prazos e previsão de alta. “Se o paciente está estável clinicamente, recursos da RAS disponíveis, e família treinada, o paciente estará apto para a alta”, acrescenta Tatiana.
Pioneirismo na gestão de altas hospitalares
Conforme explicaram os fisioterapeutas pediátricos da UTIP, Bruno Miranda e Valéria Cabral (responsável técnica da fisioterapia), na UTI Pediátrica, o trabalho de desospitalização já fazia parte das ações de cuidado dos profissionais como rotina da unidade, porém, sem nenhum registro oficial. Segundo eles, com o tempo, foi surgindo a necessidade da construção de cartilhas para orientação dos pais. Assim, a equipe da Fisioterapia desenvolveu as três primeiras cartilhas de cuidado: “Aspiração em Ambiente Domiciliar”, “Cuidados com a Traqueostomia”, e “Estimulação do Bebê”.
“A ideia deu tão certo que sentimos a necessidade da criação de um grupo de trabalho multiprofissional, englobando outros cuidados essenciais para desospitalização e maior integração com o serviço de Gestão de Altas do CHC”, explica Bruno Miranda. Segundo os fisioterapeutas, foi assim que surgiu, por portaria, o Grupo de Trabalho de Orientações de Alta na UTIP. “Isso permitiu que essa transição de cuidados hospitalares para o domicílio acontecesse de forma ainda mais segura e organizada dentro da nossa unidade”, completa Valéria Cabral.
Preparação da família
Segundo a assistente social da UTIP, Solange Coning, a equipe de saúde entende que a desospitalização de crianças e adolescentes é um processo complexo e multifatorial, que exige uma preparação cuidadosa da família para garantir um retorno domiciliar seguro. Ela completa que esse preparo tem início já na admissão da criança na UTIP, por meio do acolhimento e da escuta qualificada da família, permitindo a identificação do perfil sociofamiliar, do principal cuidador e das condições de moradia.
“O acompanhamento da evolução clínica da criança é essencial para que a desospitalização seja intensificada quando o seu quadro clínico estiver estável”, diz Solange. Segundo ela, cada criança demanda um plano individualizado, e elaborado em conjunto com a equipe multiprofissional de saúde. “Para que a desospitalização seja segura e efetiva, é fundamental que a preparação da família ocorra de forma compartilhada, prática e orientada, sempre articulada com a RAS, e assim, garantindo os seus direitos”, conclui.
Materiais de desospitalização
Seguindo orientações de uma portaria do Ministério da Saúde (MS), são utilizados alguns instrumentos para a desospitalização, como: controle de capacitação dos cuidadores; cartilhas de orientação de cuidados; cartilha de orientações sobre direitos e deveres para garantir direitos sociais da criança; orientações sobre documentos de solicitação de insumos e ou equipamentos na atenção básica; material de apoio em forma de imagens para ilustrar aspectos relacionados ao cuidado; orientações verbais e práticas durante a realização do cuidado; supervisão da família até esta ficar apta a realizar o cuidado; certificado de cuidador quando a equipe entende que a família está apta para o cuidado domiciliar; articulação com os pontos de atenção da; discutir sobre o que o município de origem disponibiliza ao paciente; certificar-se de que os insumos e/ou equipamentos estarão disponíveis e em que data; e, solicitar acompanhamento pós-alta.
Equipe envolvida
A responsável técnica pela UTIP é a médica intensivista, Adriana Koliski. O Grupo de Trabalho de Desospitalização é coordenado pelo fisioterapeuta Bruno Miranda e pela enfermeira Tatiana Braga. A equipe é integrada por duas médicas intensivistas pediátricas, duas enfermeiras, uma assistente social, quatro fisioterapeutas; uma farmacêutica; duas nutricionistas e uma enfermeira de ligação.
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