A hipertensão durante a gestação é uma das maiores ameaças à saúde materna e fetal no Brasil. A condição, que pode evoluir para quadros graves como a pré-eclâmpsia, está associada a complicações como partos prematuros, restrição de crescimento fetal, convulsões, hemorragias e até óbitos. Mas hospitais universitários geridos pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) têm se destacado como centros de referência nacional no enfrentamento de síndromes hipertensivas na gravidez.

No Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), a professora de Obstetrícia Juliana Zimmermann alerta que a hipertensão acomete de 5% a 20% das grávidas e representa cerca de 35% das mortes maternas no Brasil, índice que poderia ser reduzido com um pré-natal mais eficiente. “Quando essas mortes acontecem, é sinal de que algum elo da rede de cuidado — pré-natal, parto ou pós-parto — está falhando e precisa ser consertado”, aponta.

Zimmermann coordena um ambulatório especializado em gestantes com hipertensão por meio da chamada “vigilância contínua”, com exames regulares de ultrassonografia, dopplerfluxometria e cardiotocografia.

A Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ME-UFRJ) também lidera ações inovadoras de rastreamento e prevenção. Desde 2011, implanta o protocolo da Fundação de Medicina Fetal (FMF) para rastrear a pré-eclâmpsia no primeiro trimestre da gestação — um modelo validado por estudos científicos liderados pela obstetra Karina Bilda Rezende, com base em uma das maiores amostras brasileiras.

Tratamentos de rotina

Na ME-UFRJ, gestantes identificadas como de alto risco recebem dose ajustada de aspirina. De acordo com a especialista da UFRJ, essa medida reduz em até 62% os casos de pré-eclâmpsia antes do parto e em 90% os partos prematuros antes da 32ª semana associados à doença.

Nos HUs da Ebserh o tratamento é completo e gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com uso de medicamentos anti-hipertensivos, corticoides para maturação do pulmão fetal e assistência multiprofissional envolvendo obstetras, cardiologistas, nutricionistas e psicólogos.

Apesar de ser possível o acompanhamento apenas com o obstetra nas formas mais leves, recomenda-se o monitoramento multidisciplinar com obstetras, cardiologistas e multiprofissional com nutricionista e psicólogo.  Algumas vezes, é necessária a antecipação do parto para proteger mãe e bebê.

Cuidados no pós-parto

O risco de complicações, como eclâmpsia, permanece após o nascimento e requer acompanhamento contínuo. Ainda segundo Karina Bilda, mulheres que tiveram pré-eclâmpsia são monitoradas por equipes de saúde para prevenção de doenças cardiovasculares futuras, com foco na redução de fatores de risco como obesidade, tabagismo, colesterol e hipertensão. O cuidado deve continuar mesmo depois do puerpério. É uma oportunidade de rastrear e tratar fatores como obesidade, colesterol alto, diabetes e sedentarismo.

No Huap, 60% dos pacientes com hipertensão resistente são mulheres

A hipertensão gestacional e a pré-eclâmpsia não afetam apenas a gravidez. As especialistas advertem que mulheres que desenvolvem essas condições têm risco elevado de doenças cardiovasculares ao longo da vida. Esse é o caso da paciente do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF), Gilcinea Abreu da Silva, de 66 anos, que hoje monitora uma hipertensão resistente depois de enfrentar um colapso.

“Eu comecei a ter pressão alta na primeira gravidez, com 16 anos. Mas não tratei, porque achava que não precisava de cardiologista. Só comecei a me cuidar vinte anos depois, quando caí na rua com o nariz sangrando. É muito importante a gente se cuidar, hoje eu sei disso”, relata Gilcinea. Na unidade de saúde, a idosa recebe atendimento multiprofissional.

De acordo com a professora de Enfermagem Dayse Mary da Silva Correia, 60% dos pacientes atendidos no ambulatório do Huap com hipertensão resistente são mulheres. Esse é o tipo mais grave da doença, quando a pressão arterial segue elevada mesmo com o uso combinado de três ou mais medicamentos anti-hipertensivos.  “Independentemente da condição da gravidez, nunca observamos tantas mulheres infartando como hoje. Pesam outros fatores importantes como sedentarismo, álcool, fumo, diabetes entre outros aspectos do nosso momento contemporâneo”, pontua. Dayse destaca ainda o incremento da hipertensão entre os brasileiros pós-pandemia, saltando de 38 milhões, em 2019, para 50 milhões, em 2023.

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