No Brasil, estima-se que cerca de 40 mil pessoas convivam com a esclerose múltipla (EM), doença autoimune crônica que afeta o sistema nervoso central. Embora ainda não exista cura, os avanços da Medicina, aliados aos hábitos saudáveis, têm mudado o prognóstico da EM. No Dia Mundial da Esclerose Múltipla, 30 de maio, reforça-se a importância da informação e do apoio contínuo aos pacientes e suas famílias. Na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), diversos hospitais universitários são referência no diagnóstico e tratamento.
Em Belo Horizonte, o Centro de Investigação de Esclerose Múltipla de Minas Gerais (CIEM), serviço vinculado ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), é um dos principais centros de investigação do Brasil. O serviço, que atende cerca de 1,5 mil pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conta com equipe multidisciplinar composta por neurologistas, oftalmologistas, psiquiatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e psicólogos.
O coordenador do CIEM, Marco Aurélio Lana, explicou que ter parentes de primeiro grau diagnosticados com esclerose múltipla, apresentar uma resposta imune anormal ou ter predisposição genética aumenta a probabilidade de desenvolver a doença. Na EM, o sistema imunológico ataca a bainha de mielina, substância que reveste as fibras que conectam os neurônios e ajuda na condução dos impulsos elétricos. Sem uma mielina saudável, os sinais elétricos entre o cérebro e o corpo tornam-se lentos, falhos ou bloqueados, o que afeta movimentos, sensações, visão, equilíbrio e cognição.
Sinais e sintomas
A esclerose múltipla se manifesta sob a forma de surtos caracterizados por sintomas e/ou sinais neurológicos. “Os sintomas mais comuns no início da doença são sensitivos. A pessoa tem dormência em um braço, em uma perna ou no rosto e, às vezes, uma sensação de queimação e dor. Em segundo lugar, são os sintomas motores. A pessoa nota a perna um pouquinho mais pesada ao andar, uma certa diminuição da força muscular. E, um terceiro sintoma muito comum é a visão embaçada, escura e frequentemente com dor”, detalhou o neurologista do HC-UFMG.
Dados do Atlas da Esclerose Múltipla da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla revelam que há duas vezes mais mulheres do que homens com esclerose múltipla. As razões para essa diferença são desconhecidas, mas aspectos hormonais ou genéticos podem estar envolvidos.
Diagnóstico e novos critérios
O diagnóstico abrange histórico do indivíduo, avaliação clínica e exames complementares. “Quando o médico examina o paciente, ele vai em busca de sinais da doença, como a fraqueza, a diminuição da sensibilidade, alterações de reflexo, alteração de coordenação motora. Em pacientes com esclerose múltipla, ele vê isso de uma maneira muito objetiva”, afirmou Lana.
Exames complementares, como a ressonância magnética e o exame do líquido cefalorraquidiano (LCR), ajudam a identificar alterações no cérebro, na medula espinhal e no fluido que circunda o cérebro e a medula espinhal.
A coordenadora do Centro de Referência em Esclerose Múltipla do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), a neurologista e professora da UFG, Denise Sisterolli Diniz, destacou que novos critérios diagnósticos foram debatidos recentemente. As discussões ocorreram durante no último Brazilian Comite of Treatment Research in Multiple Sclerosisl (BCTRIMS), pelo DC da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e pelo European Committe for Treatment Research in Multiple Sclerosis ECTRIMS, em 2024.
Entre as atualizações estão a inclusão do nervo óptico como um possível local de comprometimento da EM e de novos marcadores de imagem, “como o sinal da veia central e anel paramagnético e novos marcadores do Líquor com as cadeias leve Kappa Lambda, que são comparáveis ao achado de Bandas Oligoclonais”, revelou Sisterolli.
Aumento no número de casos
A especialista HC-UFG afirmou que, nos últimos anos, cresceu o número de casos de esclerose múltipla. “Isso pode ter vários fatores: aumento de infecções virais por diversos agentes, incluindo o SARS-CoV-2 (COVID-19), Epstein Baar, vírus da família Herpes e Citomegalovírus, porém, comprovado pela Medicina por evidência, apenas o Epstein Baar”, completou.
Outros fatores que parecem estar relacionados são os ambientais: aumento da poluição, de hábitos alimentares inadequados e o tabagismo. “E, por último, a deficiência de vitaminas, sendo mais importante a vitamina D”, disse.
Tratamento
Ainda não há prevenção para a esclerose múltipla (EM), mas algumas medidas podem ajudar no controle da doença. O tratamento deve ser contínuo e busca reduzir os surtos, retardar a progressão e aliviar sintomas. Atualmente, existem 14 medicamentos aprovados pela Anvisa para tratamento da doença. São drogas que atuam modificando a resposta imune do organismo e a sua progressão a longo prazo.
“Se o diagnóstico for precoce, com o tratamento ideal pode-se ter uma qualidade de vida muito boa e normal. No entanto, se a doença progride sem tratamento, pode haver acúmulo de incapacidade importante. Algumas formas são mais progressivas e com alta atividade inflamatória e, consequentemente, evolução mais incapacitante, apesar do tratamento”, pontuou a médica.
O HC-UFG acompanha cerca de 500 pacientes em dois ambulatórios dedicados à esclerose múltipla. Além do diagnóstico, a instituição oferece um centro de infusões, onde realiza pulsoterapia, com administração de altas dose de metilprednisolona, e a plasmaférese, que é a retirada de substâncias nocivas do organismo, como anticorpos e citocinas, quando a pulsoterapia não é efetiva. O HC-UFG também oferece imunoglobulina intravenosa (IVIG), que devido às suas propriedades anti-inflamatórias, pode ser benéfica no tratamento de recidivas agudas e na prevenção de novas recidivas.
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