Quantos sonhos cabem no coração de um casal à espera de um bebê? Essa é uma pergunta cheia de significado para quem aguarda a chegada de uma nova vida. Quando essa desejada espera é interrompida nos últimos meses de gestação, levanta a discussão sobre os fatores que levam ao óbito fetal e a fase do luto perinatal da família. Profissionais da Rede Ebserh esclarecem sobre as principais causas para a perda do bebê ainda na gestação e os cuidados essenciais na fase final da gravidez.

O tema foi aceso com o caso da perda do bebê da apresentadora Tati Machado, da TV Globo, que estava na fase final da gestação. De acordo com a médica obstetra da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC-UFRN/Ebserh), Maria da Guia de Medeiros, a perda gestacional costuma ser uma complicação comum da gravidez, na qual cerca de 20% das gestações acabam evoluindo para interrupção espontânea, por vezes, com a formação completa do feto. A médica explica que as principais causas de uma perda no terceiro trimestre, fase final da gravidez, vão desde alterações genéticas a doenças, como infecção, trombofilia, hipertensão, diabetes, uso de drogas ilícitas, alterações placentárias e do cordão umbilical e, ainda, as doenças autoimunes.

“Algumas dessas doenças, ou situações, levam à insuficiência placentária, que deixa de levar sangue e nutrientes para o bebê, ocasionando a morte fetal. Por vezes, o próprio bebê se enrola no cordão umbilical, formando um nó no cordão o que pode levar a sua morte”, explica Maria da Guia. A médica obstetra enfatiza, ainda, que algumas situações não são diagnosticadas na consulta mensal do pré-natal. Por isso, um acompanhamento com um pré-natal qualificado ainda é a melhor forma de evitar a morte do bebê e da mãe.

Cuidados básicos

O médico obstetra e ginecologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), Agostinho de Sousa Machado Júnior, esclarece que, na fase final da gestão, a probabilidade da perda do bebê é menor, porém, uma gravidez com transcorrência saudável ainda corre o risco de apresentar intercorrências. “A gestação costuma ser um evento fisiológico, de risco habitual, em cerca de 90% dos casos, mas existem intercorrências como sangramentos/hemorragias, síndromes hipertensivas, infecções, ruptura prematura de membranas, entre outras”, disse.

Agostinho Machado destaca os cuidados básicos que devem ser tomados na fase final da gravidez, como o seguimento da agenda pré-natal proposta, hábitos de vida saudáveis, evitar tabagismo e fazer suplementação vitamínica. O profissional ressalta, ainda, os sinais de alerta quando a saúde do bebê está em risco na barriga da mãe, a exemplo do sangramento genital, perda de líquido pela vagina, diminuição ou ausência de movimentação fetal.

A médica obstetra da MEJC, Maria da Guia, ressalta a importância de exames certos no momento certo. Medicações corretas na vigência da necessidade e a observação cuidadosa da mulher em relação a sinais e sintomas diferentes que possam acontecer, além da escuta qualificada da equipe de saúde no momento da consulta são estratégias valiosas para prevenção da morte fetal. “A família e a equipe de saúde podem acompanhar o pré-natal de forma a minimizar o risco das perdas fetais, e a família conseguir realizar seu sonho, de levar nos braços para casa uma criança saudável e uma mãe apta a cuidar de seu filho com amor e esperança”, pontua. 

O luto perinatal

A intensidade do luto perinatal independe do tempo de gestação. De acordo com o médico obstetra e ginecologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE/Ebserh), Agostinho Machado, a intensidade do luto perinatal está mais ligada à expectativa do quanto a mulher vem sonhando com a gestação e gerando o feto. “Um abortamento pode ser uma experiência bem intensa e traumática. Agora, quanto mais próximo ao parto for a descoberta de um óbito fetal intrauterino, pode-se ter um adicional ou agravante de dor pela concretude dessa maternidade tão iminente”, explica. O médico ressalta que uma assistência pré-natal de qualidade é condição imprescindível para minimizar as complicações obstétricas, embora possam surgir situações imprevisíveis.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog