“Um ano depois, a enchente ainda vive em nós”, disse um participante na fila de credenciamento do Congresso Brasileiro sobre Catástrofes Climáticas (ConBrasCC). O evento iniciou na manhã desta quinta-feira (29/5) e vai até o sábado (31/5), no Centro de Convenções da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O encontro é promovido pela UFSM, pelo Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM-UFSM) e pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
“O nosso planeta tem dado sinais claros de esgotamento, e os efeitos climáticos extremos, como incêndios, secas e deslizamentos, são uma realidade que exige respostas imediatas e coordenadas”, afirmou o presidente em exercício da Ebserh, Daniel Beltrammi. Durante a conferência de abertura do Congresso, com o tema “Desafios e perspectivas na gestão em saúde diante de catástrofes climáticas”, ele enfatizou a urgência de ações concretas para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.
Segundo o gestor, “Quando o ser humano sucumbe, temos a responsabilidade de recuperar sua saúde o mais rápido possível. Nesse sentido, o Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamental como linha de defesa para preservar a saúde e a dignidade das pessoas”. Beltrammi também abordou a necessidade de reengenharia nas estruturas hospitalares para enfrentar emergências climáticas. “Os hospitais precisam estar prontos para responder rapidamente e garantir a continuidade dos cuidados, mesmo em situações críticas”, afirmou.
O presidente em exercício também destacou a importância de valorizar os profissionais de saúde e promover a formação continuada. "Precisamos de estratégias baseadas em evidências para garantir segurança alimentar, moradia e bem-estar", disse. Além disso, reforçou o papel do ensino e da pesquisa na preparação para desastres e na formulação de políticas públicas. “É essencial consolidar o aprendizado dessas experiências para fortalecer as políticas públicas e preparar melhor os profissionais”.
Autoridades reforçam papel das instituições públicas na resposta às crises climáticas
O ConBrasCC propõe uma reflexão sobre o tema “Enchentes e desmoronamentos – impactos, desafios e perspectivas para a gestão dos serviços de saúde”, com base nas inundações de 2024 no Rio Grande do Sul, que atingiram 95% dos municípios e afetaram 2,5 milhões de pessoas. Além das perdas humanas e sociais, os danos comprometeram serviços de saúde, infraestrutura e economia.
A abertura do evento contou com a participação de autoridades locais, estaduais e federais, além de representantes de instituições acadêmicas e da saúde pública. Compuseram a mesa o presidente em exercício da Ebserh (remotamente); o reitor da UFSM, Luciano Schuch; o superintendente do HUSM-UFSM, Humberto Moreira Palma; o secretário municipal de Resiliência Climática e Relações Comunitárias, Edson Roberto das Neves Júnior, representando o prefeito de Santa Maria, Rogério Décimo; a diretora do Centro de Ciências da Saúde da UFSM, Maria Denise Schmidt; a coordenadora do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSM, Rosângela Marion da Silva; a gerente de Atenção à Saúde do HUSM e coordenadora do Congresso, Tânia Solange Bosi de Souza Magnago; e a líder do Grupo de Pesquisa, Ética, Saúde e Segurança do Paciente da UFSM, Graziele de Lima Dalmolin.
O reitor da UFSM relembrou os 800 milímetros de chuva que ocorreram em apenas dois dias e que impactou a vida de todos. Para Luciano, esses eventos climáticos estão se tornando cada vez mais frequentes e é vital que as instituições se preparem para lidar com eles. “Este Congresso é uma oportunidade para discutirmos como podemos nos preparar melhor para os desafios que virão, porque a academia e a ciência devem estar sempre à frente na formulação de políticas públicas e na busca por soluções”, defendeu.
Para o superintendente do HUSM, “O SUS está a serviço da vida, do ensino e da solidariedade, construindo um mundo mais cooperativo e amoroso”. Ele recordou o início da tragédia climática de 2024: “Quando chegamos no HUSM naquele dia e identificamos áreas alagadas, colegas que não chegavam porque estavam isolados, notícias que corriam enquanto celulares funcionavam ainda, de que pontes estavam caindo e casas sendo inundadas, em toda a nossa região que foi a primeira a ser atingida no estado. Essas memórias vêm no coração da gente, e lembramos quantas pessoas, naquele momento, perderam não apenas objetos, mas também entes queridos e suas relações com o mundo”.
Sobre o ConBrasCC
O ConBrasCC está alinhado aos princípios da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS), ao propor a avaliação dos impactos das inundações e fomentar a produção de conhecimento, tecnologias e inovação voltadas à prevenção de agravos futuros e à redução da morbimortalidade pós-catástrofe. A iniciativa também segue as diretrizes do Plano Nacional de Saúde (2024–2027), que reconhece as catástrofes climáticas como emergências de saúde pública e aponta a necessidade de respostas imediatas, cooperação entre instituições e uso estratégico da ciência e da tecnologia.
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